domingo, 26 de junho de 2011

Oráculos...

“(...) Llena, pues, de palabras mi loucura
o déjame vivir en mi serena
noche del alma para siempre oscura.”
El poeta pide a su amor que le escriba (Federico García Lorca)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Versinho

Ah moço, parece que pensa o o outro é oco...
Não chega pegando
Por que ela é não é dengosa
Mais que charmosa, é de se resguardar.

Se chega de açoite, no meio da noite
Pode crer que ela gira
e como numa mandinga
sai numa esquiva
foge da sua vista e (pode crer) não vai mais voltar

Não agarra nem puxa
Atrai na penumbra
Subjetividade e abstrato,
mais que o fato ou a realidade

Joga uma isca,
conquista
por que se de longe excita
pode crer que ela vai se manifestar

Surpreende
Além da superfície
Poupa a garganta e cordas vocais, ao invés de fazer pergunta boba.

Não ataca essa garota
que ela tem de ser pega com jeito
Antes por dentro, movida pelo desejo

Não tem receita pronta
nem intenção de instrução
Não é desabafo, é só mais um relato
Desses casos de relação

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Conto de um preto novo


Conto de um preto novo
Vivian Faria


“a lua anda devagar mas atravessa o mundo”
Mia Couto














Essa historia é diferente
Ela não conta do inicio de nada
Nem do fim de mundo nenhum

É como uma fotografia que, se existisse assim na tecnologia de hoje, a gente poderia desmontar a imagem que nem quebra cabeça, e ver como foi que aquele choro ou aquele riso foi parar no rosto de quem ficou preso na foto pela lente.

Ela fala de varias peças de um grande mosaico...
É como uma uma porta, que vai levar toda gente que quiser ir pra vários passeios, pra entender um pouco como foi que um monte de parte de pensamento que a gente pensa vieram parar na nossa caixola. Pelo menos, na minha caixola.

Eu não tenho muita idade, pensando que hoje em dia quem tem oitenta anos pode tudo: o que não tiver funcionando, quase sempre tem conserto.

Quando eu era menino ouvia do meu avô as historias dos negros que lutaram com zumbi pela liberdade.
Quando eu fui pro colégio discordei da professora quando ela falou que os escravos não fugiam que nem o índio por que nao conheciam a terra. Ganhei uma boa duma palmatória e um castigo, mas não liguei por que meu avo ficou com ar de satisfeito, e não foi pela bronca que eu levei. Isso me satisfez também, de uma forma que só comecei a entender o por que depois de grande.

Quando meu avô morreu, saímos do interior pra cidade, pro pai arrumar trabalho melhor.
Eu, mesmo pequeno podia a sentir uma diferença que vinha da gente branca que, mesmo sem saber motivo, me dava uma raiva e um bolo na garganta.

Mas nem toda gente branca faz a gente sentir enjoo não e isso eu fui perceber no meu primeiro dia de aula na escola da cidade. Diferente da escolinha de duas salas la da roça, onde eu tinha conhecido as letras e depois as silabas; agora eu tava num prédio grande e só na minha sala tinha uns 40 colegas pra aprender.

O professor entrou na sala.
Eu nao sabia que homem era professor também. Pensava que trabalho de homem era na lida ou na obra, como meu pai e meu avo.
Mas o Seu Antonio, como se apresentou, tinha uns 30 anos, olhos e cabelos bem negros e era gago.

Quando a turma aprendeu a controlar o riso e ele, sua cadencia respiratória, as aulas começaram a melhorar e ele abriu então um portal importante pra minha visão: a historia.

Foi diferente pensar no inicio de todas as cosias sem Olodumare por perto pra fazer tudo de uma vez.

Dessa vez não foi nem o deus branco quem criou tudo mas, uma explosão que nem de panela de mistura na pressão, se esquecida no fogo. Essa mistura que explodiu, depois de muitos milhares de anos e, de acordo com uma tal de evolução, nos fez chegar onde chegamos.

E pra chegar onde chegamos meu filho, la tava o Seu Antonio fazendo a giz no quadro negro umas réguas compridas que contavam os anos da historia , pra mostrar que depois que o macaco virou homem ele ainda teve muito que aprender pra ser que nem a gente é hoje.
E pra fazer essas tecnologia que tem hoje em dia? Oxi.....isso demorou!

Essa coisa de internet, câmera que se pode ver a foto na hora numa telinha a gente nem imaginava no meu tempo não.
So de ver, mesmo depois de mes, a figura da gente gravada no papel, parecia coisa de espirito.
Maquina de caixa registrador a gente so viu na padaria da cidade e foi bem uma novidade. Quando anos depois eu tava voltando pro tecnico de contabilidade, quando voces ja tavam encaminhados nos estudos, vc nao imagina como eu senti no coracao pegar uma calculadora na mao.
Nao saia papel que nem na registradora da padaria do seu fulano mas dava pra ver a conta certinha ja feita ali, escrita nuns palitinhos.

Mas ai o Seu Antonio...ele ia contando pra gente a historia do homem no mundo e de tudo e todo jeito que ele arrumou pra fazer as coisas. Mas que a gente é uma raça danada a gente é mesmo.....imagina a felicidade do primeiro cabrunco que raspou a ponta de um galho de arvores, fez lança e pescou um peixe?

Deve ser melhor que ver o time do coração ganhar a taça do mundo!

Conforme o tempo ia passando a historia ia sendo apresentada pra nós pelo Seu Antonio, que sabia tudinho, mais que data e nome nas pessoas importantes, mas todos os detalhes de quando e onde das historias que aconteceram. Quando ele ia contando, a gente criança ia vendo as guerras e os feitos dos homens em tudo que era lugar do mundo.

Coisa boa meu neto e muita coisa tuim também.

Eu tinha achado estranho que nunca chegava hora de gente preta nas historias de conquistas das guerras de branco que caiam sempre nos exames.

Ate que quando chegamos na historia do brasil, quando o português chegou, pensei: agora vamo ver o que foi que a gente da minha cor fazia aqui enquanto doutro lado do mundo o pessoal ta saindo de barco.

Eu senti foi tristeza quando Seu Antonio contou umas historias que eu nunca ouvi meu avô contar: o negro não tava lutando capoeira sempre herói. Alias, o que Seu Antonio contou muito de primeira foi da derrota de príncipes e princesas que foram escravizados e vieram pra ca pro Brasil a força, separados de sua gente e de sua família. A fome, a tortura, a mordaça, o tronco....era mais, muito mais que o preto não fugir por que não tinha conhecimento da a terra. Com Seu Antonio não tinha palmatória....mas também não tinha dessa vez meu avô do meu lado pra me contar a versão boa que ele sabia...

Numa das aulas, ele contou que ate que a feijoada, que minha vó fazia sempre quando era almoço família toda junta, o preto inventou nesse tempo, porque preto não podia comer carne boa e do resto do porco fez essa comida, que hoje um monte de gringo atravessa o mundo pra comer aqui.

Ve se pode...

Eu já não queria mais ir pra escola e nnao dizia o por que pra minha mãe pra ela não ficar chateada.

Como que eu ia contar pra ela que Seu Antonio, o melhor professor que já tive, tava agora falando isso da gente?

Um dia, quando a aula acabou e eu não sai. Fiquei pra enfrentar o Seu Antonio, perguntar por que que ele só falava daquelas coisas e não tava contando a historia de zumbi, a beleza da mandinga da capoeira, da sabedoria que meu avô contava pras netas dos pentes de Africa, que fazem os cabelos das pretas ficarem tão bonitos do jeito que só eles podem desenhar....

Seu Antonio ficou com uma cara que parecia de dor de barriga misturada com vergonha, e não me disse nada quando as lagrimas desembolaram da minha garganta e vazaram pelos olhos, impedindo eu de terminar uma pergunta que era tão grande que eu nem sabia como fazer.

Calado ele tirou um monte de livro da mochila. Fiquei pensando no porque que ele tava com todos de uma vez na bolsa. Pensava em como os professores gostavam de ler...

Seu Antonio ficou muitos minutos folheando, procurando alguma coisa.....esse tempo foi bom pra eu retomar o prumo e engolir o choro.

Gaguejando muito, como sempre quando estava nervoso, Seu Antonio me falou que tínhamos uma missão: a historia do negro que eu conhecia que meu avo contava não estava no livro da escola, e em nenhum dos outros que ele tirou da bolsa.

Eu disse que o que tínhamos não parecia se chamar missão mas sim, um problema, mas ele disse que não, que íamos fazer uma pesquisa, que íamos levar meu avô na sala de aula pra contar as partes da historia do preto que ele sabe e que os autores do livro pareciam não conhecer.

Bem, contei pra ele que meu avô ja estava em Aruanda a um tempo, mas combinamos de começar um trabalho grande: eu ia nos meus tios como um repórter pra colher as memórias que meu avo passou pra eles. Foi assim que eu descobri que tudo veio de antes, do que o avo do meu avo contou pra ele!!!!

O professor Antonio ficava todo recreio e almoço atras de uma montanha de livro que ele pegou em uma outra biblioteca, por que o que ele queria da historia não tinha nos livros da escola.

Na festa de final de ano da escola organizamos uma exposição, com a pesquisa que Seu Antonio fez e eu, fui o apresentador da historia do negro que não esta nos livros, que quem contou foi o avô do meu avô.....