quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Saco cheio ou, Ano Novo é o caralho.

Saco cheio dessa porra de "feliz ano novo", "que venha 2012",  "se 2011 foi bom, 2012 ninguém me segura"....

Atenção: sei que será difícil mas, NADA, absolutamente NADA vai mudar por que o ano de um calendário escroto, criado por humanos escrotos, como uma forma de dominação escrota de outros humanos recomeçará sua contagem.

Falando serio: se todos os anos "viessem como prometem", ou seja, sempre melhor que o anterior, definitivamente eu não teria tido minha primeira crise depressiva aos 17 anos.
Nem um surto de panico, aos 26.
Nem mais um monte de coisas, (menos pontuais mas) tão dolorosas quanto, que apesar de terem me ensinado muito, doeram para caralho, me dilaceraram internamente, me colocando inúmeras vezes no fundo do poço - agarrada -  com a menina que foi presa lá viva  pela própria madrasta (veja "O chamado")

E as que doem agora?
Nesse exato instante......o que fazer com essas dores que estão em mim agora?
Por que....pelo que eu me lembro algumas estão aqui ha algumas viradas de ano e NUN-CA se foram por mais que eu me prometesse algo ou as implorasse pra que "saíssem" ao primeiro minuto do ano que chega.

Se os anos fosse "cada vez melhores", como prometem, acho que 2011 anos já era bastante tempo pra humanidade se unir e fazer somente o bem uns para os outros.

Se vc quer crescer, amadurecer, ser melhor como ser humano torça para que o ano de 2012 seja pleno de problemas e sofrimentos por que (dizem...) é ai que o aprendizado mora.
Ok, nao precisa torcer pra se foder mas aceite que isso sim é um fato.


Tirando uma profecia que acaba com essa palhaçada de modo de vida escroto em que nos encontramos - baseado no consumo, exploração, guerras, mentiras e blablabla  - a única previsão "real" de alguma mudança nesse planeta, meu ano não me promete nada.
Eu também não prometo nada a ele.

Mas pra mim posso prometer alguma coisa, já que não sou algo abstrato como um "ano" -  medida de tempo babaca - e posso me cobrar caso falhe: faço comigo um acordo... ser melhor de alguma forma hoje, pra mim e para os outros, todos os dias...todos os tempos.
Não da pra ser solidário só no Natal, dizer que ama só no dia das mães, abraçar forte só por que é dia do amigo: essas datas são convenções porra!!!!!!!!

O relógio corre no instante que vc berra o primeiro choro nesse mundo.
Ah, e não se engane: vai ser de chorar, em muitos momentos.





terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Todos iguais

Outro dia qualquer. 
De novo, as sete da manha, porem não teria de trabalhar.
Estava de ferias.

Ou desempregada?

A patroa que viajou disse: "vou demorar muito a voltar, acho injusto te prender.....se arrumar outra coisa pode ir."

Assim: "pode ir".  Ela não queria ir, queria ficar, aprender mais daquela coisa que a fazia tão bem.

Mas era dia...um outro dia qualquer. O que a acordou antes da hora foram gritos:

- Vou te matar seu filho da puta! Mete  pe que eu vou cortar sua garganta! Mijando na frente de morador meu irmão.....vou te matar, vou te matar!....

Para tudo!  "uns cinco homens dormindo embaixo de uma marquise num frio da porra e essa criatura querendo mata-los por um xixi? O que falta pra essa figura do inferno pegar o facão, matar os governantes e depois a si mesma?"

Voltou a dormir, ate o despertador chamar ainda tinha bons quarenta minutos de sono. Sonhou.

No sonho descia da beliche voando, direto pela janela, até a confusão. Tinha uma grande espada e matou primeiro o cara que berrava.....voou ate a casa do prefeito: todos mortos.
Governador: todos, decapitados.

Passou por todas grandes empresas do centro da cidade e foi matando um por um....não precisava toca-los, bastava a intenção e a morte os acoitava com sua própria foice, arrancando a distancias todas as cabeças que deveriam cair. 

Num momento começou a flutuar, punho da espada na altura do peito, testa colada no meio da lamina. A luz mortal a envolvia...estaria morta também?
Seria nesse momento uma representação de Loki, num resgate mental ao seu passado católico?
Talvez tivessem cortado sua cabeça e, como um zumbi, ela agora tirava a cabeça de todos para que virassem como ela, anjos da morte...?

Acordou....num pulo.
Chorou.

Por que sua mente não teria dado a ela amor para lutar? Uma espada de morte? Porque não uma varinha, vassoura, pó magico....algo bom?

Sempre poder = atrocidades....por sorte despertou antes de "governar o mundo"... seria um desastre.
 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O surto

Acordou as sete para trabalhar.
Comeu uma banana, tomou um gole de cafe e  fumou um cigarro enquanto molhava as plantas.

Tudo certo, normal.
Linear.

No caminho que cruza a cidade o de sempre: transito, acidente, barulho.

Dormência.

O dia correu como de costume.
Trabalhou.
Comeu pouco mas comeu. Um bolo na garganta não a deixava comer voraz e compulsoriamente como de mal habito, mas ela comeu.

O peito apertado, boca seca.

Fim do dia, sete da noite mas ainda claro.

A confusão começou quando se viu perdida no meio da cidade, subindo e descendo passarelas sem saber  pra qual direção os ônibus seguiam para sua casa. Não era sempre que pegava condução naquele lugar mas algo já estava errado quando os nomes nos letreiros dos ônibus não se conectavam com seus sentidos.

Falta de ar pelo deficit cognitivo? Pelo medo?

Medo do deficit?
Medo do físico?

Medo, medo.

Como há um tempo não acontecia o descompasso respiratório não passava.
Por mais que contasse, prendesse e soltasse não se equilibrava.

Ria, nervosa: des-equilíbrio, de novo.

- Acho que vou ficar louca.....pensou.

Desceu no ônibus. O cheiro de amônia da esquina de sua casa foi quase que reconfortante.
Andava rápido, respirando fundo, mas o ar que entrava se perdia, não saía dela...

Vertigem.

Abriu a porta. Olhou em volta, tudo estava normal.
Era como se o caos, o barulho, o fedor, o sangue, tudo estivesse dentro dela e não fora.

Tudo estava dentro.

 Lembrou de um livro do Paulo Coelho que leu na adolescencia, do seu relato quando estava pra morrer, num dia em que uma divida espiritual estava sendo cobrada: no texto dizia que contava tudo o que tinha na casa; talheres, discos, tudo. Dizia que se mantivesse a mente ocupada o diabo não entraria nela.
Fez sentido quando leu na época,

Numa tentativa desesperada de manter a sanidade a bagunça da casa serviria então de fio condutor pra tentar parar a vertigem interna.
Contava os pequenos lixos domésticos enquanto os ensacava a fim de organizar-se mentalmente mas tudo que fazia a levava a negar a vida.
Estado de negação.

- Não, não quero.
- Para.
- Não, não é possível.

As negativas mentais eram intercaladas por "cala a boca" gritados em voz alta, direcionados a si mesma.

Ela não se deixava pensar.

Ligou pra mãe com a desculpa de dar um oi, já ia dormir.
Não sabia que eram apenas oito e meia. Disfarçou diante da preocupação materna com um monótono

- Sim, ta tudo bem....claro que esta.

Não estava mas queria ter certeza de dizer pra mãe que a amava, já que poderia morrer a qualquer momento naquela noite.

- Beijo mãe, se cuida... te amo.

O choro veio quase como um vomito, concomitante ao botão que finalizava a ligação.
Babava e tossia, como se tivesse uma bola de pelo na garganta.

E aquilo não passava, com nada.
Nem fumo, nem agua, nada tirava a sensação de sufocamento, de engasgo, angustia, ansiedade...insanidade.

A republica vazia libertava de suas sombras fantasmas de outras épocas, os espíritos se faziam visíveis e a assombravam.

Ela ouvia e dizia

 - Calem a boca!

As vozes externas não se diferiam mais das internas e a dor física aumentava a falta de ar.

Queria pular.
Voar.
Desintegrar-se.

A falta de sentido finamente a teria levado a loucura.

Nem arte nem droga, nada a salvaria hoje. Era realmente (e finalmente) o fim.

O homem morto que vira pela manha abria os olhos pra ela na fotografia que tinha em sua mente.
A olhava vidrado e ria....ria alto.

Ela via como se tivesse novamente  no ônibus: a cabeça pendurada no braço do bombeiro que não via que aquele pedaço meio preso ao corpo, meio esmagado e com sangue, estava vivo.
Estava falando.
Estava rindo, gargalhando, tirando sarro da maluca que olha e não vê...

- Quer gritar e não consegue, huahuahuahauhauhauhauah.

Era a cabeça, que ria e dizia.

- Ta sufocando ta? - Dizia a cabeça, de dentro da cabeça dela.

Ela queria acordar mas não estava dormindo.

Dizia a cabeça, de dentro da cabeça dela.

Caída, do chão do quarto via a quina do teto do corredor que levava ao banheiro.

Sem voz, sem choro sorriu triste...

Enlouquecera, enfim.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Caio Fernando Abreu

“Escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta."
Caio Fernando Abreu