quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Saco cheio ou, Ano Novo é o caralho.

Saco cheio dessa porra de "feliz ano novo", "que venha 2012",  "se 2011 foi bom, 2012 ninguém me segura"....

Atenção: sei que será difícil mas, NADA, absolutamente NADA vai mudar por que o ano de um calendário escroto, criado por humanos escrotos, como uma forma de dominação escrota de outros humanos recomeçará sua contagem.

Falando serio: se todos os anos "viessem como prometem", ou seja, sempre melhor que o anterior, definitivamente eu não teria tido minha primeira crise depressiva aos 17 anos.
Nem um surto de panico, aos 26.
Nem mais um monte de coisas, (menos pontuais mas) tão dolorosas quanto, que apesar de terem me ensinado muito, doeram para caralho, me dilaceraram internamente, me colocando inúmeras vezes no fundo do poço - agarrada -  com a menina que foi presa lá viva  pela própria madrasta (veja "O chamado")

E as que doem agora?
Nesse exato instante......o que fazer com essas dores que estão em mim agora?
Por que....pelo que eu me lembro algumas estão aqui ha algumas viradas de ano e NUN-CA se foram por mais que eu me prometesse algo ou as implorasse pra que "saíssem" ao primeiro minuto do ano que chega.

Se os anos fosse "cada vez melhores", como prometem, acho que 2011 anos já era bastante tempo pra humanidade se unir e fazer somente o bem uns para os outros.

Se vc quer crescer, amadurecer, ser melhor como ser humano torça para que o ano de 2012 seja pleno de problemas e sofrimentos por que (dizem...) é ai que o aprendizado mora.
Ok, nao precisa torcer pra se foder mas aceite que isso sim é um fato.


Tirando uma profecia que acaba com essa palhaçada de modo de vida escroto em que nos encontramos - baseado no consumo, exploração, guerras, mentiras e blablabla  - a única previsão "real" de alguma mudança nesse planeta, meu ano não me promete nada.
Eu também não prometo nada a ele.

Mas pra mim posso prometer alguma coisa, já que não sou algo abstrato como um "ano" -  medida de tempo babaca - e posso me cobrar caso falhe: faço comigo um acordo... ser melhor de alguma forma hoje, pra mim e para os outros, todos os dias...todos os tempos.
Não da pra ser solidário só no Natal, dizer que ama só no dia das mães, abraçar forte só por que é dia do amigo: essas datas são convenções porra!!!!!!!!

O relógio corre no instante que vc berra o primeiro choro nesse mundo.
Ah, e não se engane: vai ser de chorar, em muitos momentos.





terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Todos iguais

Outro dia qualquer. 
De novo, as sete da manha, porem não teria de trabalhar.
Estava de ferias.

Ou desempregada?

A patroa que viajou disse: "vou demorar muito a voltar, acho injusto te prender.....se arrumar outra coisa pode ir."

Assim: "pode ir".  Ela não queria ir, queria ficar, aprender mais daquela coisa que a fazia tão bem.

Mas era dia...um outro dia qualquer. O que a acordou antes da hora foram gritos:

- Vou te matar seu filho da puta! Mete  pe que eu vou cortar sua garganta! Mijando na frente de morador meu irmão.....vou te matar, vou te matar!....

Para tudo!  "uns cinco homens dormindo embaixo de uma marquise num frio da porra e essa criatura querendo mata-los por um xixi? O que falta pra essa figura do inferno pegar o facão, matar os governantes e depois a si mesma?"

Voltou a dormir, ate o despertador chamar ainda tinha bons quarenta minutos de sono. Sonhou.

No sonho descia da beliche voando, direto pela janela, até a confusão. Tinha uma grande espada e matou primeiro o cara que berrava.....voou ate a casa do prefeito: todos mortos.
Governador: todos, decapitados.

Passou por todas grandes empresas do centro da cidade e foi matando um por um....não precisava toca-los, bastava a intenção e a morte os acoitava com sua própria foice, arrancando a distancias todas as cabeças que deveriam cair. 

Num momento começou a flutuar, punho da espada na altura do peito, testa colada no meio da lamina. A luz mortal a envolvia...estaria morta também?
Seria nesse momento uma representação de Loki, num resgate mental ao seu passado católico?
Talvez tivessem cortado sua cabeça e, como um zumbi, ela agora tirava a cabeça de todos para que virassem como ela, anjos da morte...?

Acordou....num pulo.
Chorou.

Por que sua mente não teria dado a ela amor para lutar? Uma espada de morte? Porque não uma varinha, vassoura, pó magico....algo bom?

Sempre poder = atrocidades....por sorte despertou antes de "governar o mundo"... seria um desastre.
 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O surto

Acordou as sete para trabalhar.
Comeu uma banana, tomou um gole de cafe e  fumou um cigarro enquanto molhava as plantas.

Tudo certo, normal.
Linear.

No caminho que cruza a cidade o de sempre: transito, acidente, barulho.

Dormência.

O dia correu como de costume.
Trabalhou.
Comeu pouco mas comeu. Um bolo na garganta não a deixava comer voraz e compulsoriamente como de mal habito, mas ela comeu.

O peito apertado, boca seca.

Fim do dia, sete da noite mas ainda claro.

A confusão começou quando se viu perdida no meio da cidade, subindo e descendo passarelas sem saber  pra qual direção os ônibus seguiam para sua casa. Não era sempre que pegava condução naquele lugar mas algo já estava errado quando os nomes nos letreiros dos ônibus não se conectavam com seus sentidos.

Falta de ar pelo deficit cognitivo? Pelo medo?

Medo do deficit?
Medo do físico?

Medo, medo.

Como há um tempo não acontecia o descompasso respiratório não passava.
Por mais que contasse, prendesse e soltasse não se equilibrava.

Ria, nervosa: des-equilíbrio, de novo.

- Acho que vou ficar louca.....pensou.

Desceu no ônibus. O cheiro de amônia da esquina de sua casa foi quase que reconfortante.
Andava rápido, respirando fundo, mas o ar que entrava se perdia, não saía dela...

Vertigem.

Abriu a porta. Olhou em volta, tudo estava normal.
Era como se o caos, o barulho, o fedor, o sangue, tudo estivesse dentro dela e não fora.

Tudo estava dentro.

 Lembrou de um livro do Paulo Coelho que leu na adolescencia, do seu relato quando estava pra morrer, num dia em que uma divida espiritual estava sendo cobrada: no texto dizia que contava tudo o que tinha na casa; talheres, discos, tudo. Dizia que se mantivesse a mente ocupada o diabo não entraria nela.
Fez sentido quando leu na época,

Numa tentativa desesperada de manter a sanidade a bagunça da casa serviria então de fio condutor pra tentar parar a vertigem interna.
Contava os pequenos lixos domésticos enquanto os ensacava a fim de organizar-se mentalmente mas tudo que fazia a levava a negar a vida.
Estado de negação.

- Não, não quero.
- Para.
- Não, não é possível.

As negativas mentais eram intercaladas por "cala a boca" gritados em voz alta, direcionados a si mesma.

Ela não se deixava pensar.

Ligou pra mãe com a desculpa de dar um oi, já ia dormir.
Não sabia que eram apenas oito e meia. Disfarçou diante da preocupação materna com um monótono

- Sim, ta tudo bem....claro que esta.

Não estava mas queria ter certeza de dizer pra mãe que a amava, já que poderia morrer a qualquer momento naquela noite.

- Beijo mãe, se cuida... te amo.

O choro veio quase como um vomito, concomitante ao botão que finalizava a ligação.
Babava e tossia, como se tivesse uma bola de pelo na garganta.

E aquilo não passava, com nada.
Nem fumo, nem agua, nada tirava a sensação de sufocamento, de engasgo, angustia, ansiedade...insanidade.

A republica vazia libertava de suas sombras fantasmas de outras épocas, os espíritos se faziam visíveis e a assombravam.

Ela ouvia e dizia

 - Calem a boca!

As vozes externas não se diferiam mais das internas e a dor física aumentava a falta de ar.

Queria pular.
Voar.
Desintegrar-se.

A falta de sentido finamente a teria levado a loucura.

Nem arte nem droga, nada a salvaria hoje. Era realmente (e finalmente) o fim.

O homem morto que vira pela manha abria os olhos pra ela na fotografia que tinha em sua mente.
A olhava vidrado e ria....ria alto.

Ela via como se tivesse novamente  no ônibus: a cabeça pendurada no braço do bombeiro que não via que aquele pedaço meio preso ao corpo, meio esmagado e com sangue, estava vivo.
Estava falando.
Estava rindo, gargalhando, tirando sarro da maluca que olha e não vê...

- Quer gritar e não consegue, huahuahuahauhauhauhauah.

Era a cabeça, que ria e dizia.

- Ta sufocando ta? - Dizia a cabeça, de dentro da cabeça dela.

Ela queria acordar mas não estava dormindo.

Dizia a cabeça, de dentro da cabeça dela.

Caída, do chão do quarto via a quina do teto do corredor que levava ao banheiro.

Sem voz, sem choro sorriu triste...

Enlouquecera, enfim.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Caio Fernando Abreu

“Escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta."
Caio Fernando Abreu


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Poesia para o dia das Crianças, 12 de Outubro dia de Nossa Senhora Aparecida - Padroeira do Brasil




Não importa pra qual gueto este anjo foi enviado,
com o sangue africano,
de índio ou europeu.

Este anjo coletivo, tem a mesma necessidade
que um anjo do castelo
aquele que nasceu no berço dourado do império.

Conheço tantos anjos...
descalços, melecudos
que andam com a barriga roncando
pedindo um pouco de sobras.
Aceitam qualquer trocados,
de afagos, de cuidados,
de pão duro abençoado,
de um telhado quebrado
onde a goteira canta no chão,
tendo o seu vaso ao lado
com o mal cheiro invadindo a sua noção.

Em um dia tão especial onde a Mãe é consagrada como a protetora do país, eu
peço pelos moleques que crescem como eu cresci. Tendo a condição social como inibidora de ser feliz.
Cubra com o seu divino manto da cor preta de sua pele a vergonha deste pequeninos
que o poder afronta e escraviza não os deixe sem auto estima.

É preciso mãe querida que apareça para eles,
dê esperanças de vidas
e alimento em suas mesas,
o sentido de abandono avistado nas calçadas
precisa de interferência
de uma mãe tão dedicada.

O futuro, ao Redentor
também quero implorar,
que as suas chagas virem luz
para os corações iluminar

Que o adulto enxergue bem o seu compromisso com estes seres
o presente que precisam é de conversa olho a olho, e uma vivência
construída em exemplos de vida.
Quando desembrulham no dia a dia o sentido da verdadeira família,
as cores mesmo na pobreza tem mais brilho e poesia.

Feliz dias eu desejo para todas as crianças, mesmo sabendo que poucas sabem o que é a esperança.

Porém por ter fé na ação e na diversidade do amor, peço aos meu orixás um pouco mais de alegria. Que nos momentos sem apoio em que a criança se encontrar, mandem por favor descer todos os Eres para a alegria reinar. Que melem de muitos sorrisos, que brinquem com o olhar que ensine a cada criança como cair e levantar.

Valeria Barbosa

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Hoje desisti de desistir

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

(...) e foi-se o amor.

foi-se, indo...

indo....

Foi.

Foi melhor.
Como nunca esteve, foi-se também pela metade.

Ainda o sinto aqui...

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Manhã de choro frouxo

Duro mais uma vez reconhecer que a raiva me move muito mais que o amor.
Ela me leva pra rua, mesmo que aos prantos . É ela que me faz meter o pé na porta, o dedo na cara de policia e guarda municipal.
Me faz sentir poder, alem de querer, mudar o mundo.
O amor não.
Esse me põe pra dormir serena, numa certeza falaciosa e quentinha de que o mundo tambem esta feliz.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Das partes

Um tanto quanto bagunçada, sofrendo de tudo: de abstinencia `a escolhas.
Mostra-se um periodo realmente dificil.

O corpo em movimento para dissipar a energia, inspira-se melhor sem fumar mas ao expirar, involutarias lagrimas saem.

Ha dentro uma dor latente nao se quer olhar.
Me fechei um pouco
Escolhi ( re) abrir, manter-me inteira e assim, o jardim florido

Deixei o portao aberto
Não viram a placa
Pisaram na grama
Deitaram nas flores
Tocaram o mel e as frutas morderam.

Não ficaram
Não levaram
Não se deram

Sobrou o vazio
e agora,
o medo.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Amor em cinco atos, encontros de uma vida imaginaria

Ato Primeiro

Dia Santo
Poesia
Noite de lua minguante num momento crescente.
Nascente.

Surgente?

Horas de palavras, beijos abissais, daqueles que não se pode parar por não querer.

Do querer?

Não se sabe o que está por vir.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Encontro














Beijo capricorniano
suave
avido
querer

Nunca de repente
Constante e
Gradativamente
Atrito sentido
proximidade...

Respiração ofegante
Gozo de beijo
Leve
forte
querer.

Pes se contorcem
Entrelaçam-se
Como caudas

Linguas sorvem
de mim calda
fantasmagorica
Nós...
atração que se extende alem do campo de vista dos olhos

Conexão que renova
Acesso
intermitente
minha mente
não mente
quer

Corpo
mais que pratica
o sentir
Sentimento
do encontro
quero
o verdadeiro
e o inteiro.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

É tanto bem querer que transborda em mim...

domingo, 26 de junho de 2011

Oráculos...

“(...) Llena, pues, de palabras mi loucura
o déjame vivir en mi serena
noche del alma para siempre oscura.”
El poeta pide a su amor que le escriba (Federico García Lorca)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Versinho

Ah moço, parece que pensa o o outro é oco...
Não chega pegando
Por que ela é não é dengosa
Mais que charmosa, é de se resguardar.

Se chega de açoite, no meio da noite
Pode crer que ela gira
e como numa mandinga
sai numa esquiva
foge da sua vista e (pode crer) não vai mais voltar

Não agarra nem puxa
Atrai na penumbra
Subjetividade e abstrato,
mais que o fato ou a realidade

Joga uma isca,
conquista
por que se de longe excita
pode crer que ela vai se manifestar

Surpreende
Além da superfície
Poupa a garganta e cordas vocais, ao invés de fazer pergunta boba.

Não ataca essa garota
que ela tem de ser pega com jeito
Antes por dentro, movida pelo desejo

Não tem receita pronta
nem intenção de instrução
Não é desabafo, é só mais um relato
Desses casos de relação

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Conto de um preto novo


Conto de um preto novo
Vivian Faria


“a lua anda devagar mas atravessa o mundo”
Mia Couto














Essa historia é diferente
Ela não conta do inicio de nada
Nem do fim de mundo nenhum

É como uma fotografia que, se existisse assim na tecnologia de hoje, a gente poderia desmontar a imagem que nem quebra cabeça, e ver como foi que aquele choro ou aquele riso foi parar no rosto de quem ficou preso na foto pela lente.

Ela fala de varias peças de um grande mosaico...
É como uma uma porta, que vai levar toda gente que quiser ir pra vários passeios, pra entender um pouco como foi que um monte de parte de pensamento que a gente pensa vieram parar na nossa caixola. Pelo menos, na minha caixola.

Eu não tenho muita idade, pensando que hoje em dia quem tem oitenta anos pode tudo: o que não tiver funcionando, quase sempre tem conserto.

Quando eu era menino ouvia do meu avô as historias dos negros que lutaram com zumbi pela liberdade.
Quando eu fui pro colégio discordei da professora quando ela falou que os escravos não fugiam que nem o índio por que nao conheciam a terra. Ganhei uma boa duma palmatória e um castigo, mas não liguei por que meu avo ficou com ar de satisfeito, e não foi pela bronca que eu levei. Isso me satisfez também, de uma forma que só comecei a entender o por que depois de grande.

Quando meu avô morreu, saímos do interior pra cidade, pro pai arrumar trabalho melhor.
Eu, mesmo pequeno podia a sentir uma diferença que vinha da gente branca que, mesmo sem saber motivo, me dava uma raiva e um bolo na garganta.

Mas nem toda gente branca faz a gente sentir enjoo não e isso eu fui perceber no meu primeiro dia de aula na escola da cidade. Diferente da escolinha de duas salas la da roça, onde eu tinha conhecido as letras e depois as silabas; agora eu tava num prédio grande e só na minha sala tinha uns 40 colegas pra aprender.

O professor entrou na sala.
Eu nao sabia que homem era professor também. Pensava que trabalho de homem era na lida ou na obra, como meu pai e meu avo.
Mas o Seu Antonio, como se apresentou, tinha uns 30 anos, olhos e cabelos bem negros e era gago.

Quando a turma aprendeu a controlar o riso e ele, sua cadencia respiratória, as aulas começaram a melhorar e ele abriu então um portal importante pra minha visão: a historia.

Foi diferente pensar no inicio de todas as cosias sem Olodumare por perto pra fazer tudo de uma vez.

Dessa vez não foi nem o deus branco quem criou tudo mas, uma explosão que nem de panela de mistura na pressão, se esquecida no fogo. Essa mistura que explodiu, depois de muitos milhares de anos e, de acordo com uma tal de evolução, nos fez chegar onde chegamos.

E pra chegar onde chegamos meu filho, la tava o Seu Antonio fazendo a giz no quadro negro umas réguas compridas que contavam os anos da historia , pra mostrar que depois que o macaco virou homem ele ainda teve muito que aprender pra ser que nem a gente é hoje.
E pra fazer essas tecnologia que tem hoje em dia? Oxi.....isso demorou!

Essa coisa de internet, câmera que se pode ver a foto na hora numa telinha a gente nem imaginava no meu tempo não.
So de ver, mesmo depois de mes, a figura da gente gravada no papel, parecia coisa de espirito.
Maquina de caixa registrador a gente so viu na padaria da cidade e foi bem uma novidade. Quando anos depois eu tava voltando pro tecnico de contabilidade, quando voces ja tavam encaminhados nos estudos, vc nao imagina como eu senti no coracao pegar uma calculadora na mao.
Nao saia papel que nem na registradora da padaria do seu fulano mas dava pra ver a conta certinha ja feita ali, escrita nuns palitinhos.

Mas ai o Seu Antonio...ele ia contando pra gente a historia do homem no mundo e de tudo e todo jeito que ele arrumou pra fazer as coisas. Mas que a gente é uma raça danada a gente é mesmo.....imagina a felicidade do primeiro cabrunco que raspou a ponta de um galho de arvores, fez lança e pescou um peixe?

Deve ser melhor que ver o time do coração ganhar a taça do mundo!

Conforme o tempo ia passando a historia ia sendo apresentada pra nós pelo Seu Antonio, que sabia tudinho, mais que data e nome nas pessoas importantes, mas todos os detalhes de quando e onde das historias que aconteceram. Quando ele ia contando, a gente criança ia vendo as guerras e os feitos dos homens em tudo que era lugar do mundo.

Coisa boa meu neto e muita coisa tuim também.

Eu tinha achado estranho que nunca chegava hora de gente preta nas historias de conquistas das guerras de branco que caiam sempre nos exames.

Ate que quando chegamos na historia do brasil, quando o português chegou, pensei: agora vamo ver o que foi que a gente da minha cor fazia aqui enquanto doutro lado do mundo o pessoal ta saindo de barco.

Eu senti foi tristeza quando Seu Antonio contou umas historias que eu nunca ouvi meu avô contar: o negro não tava lutando capoeira sempre herói. Alias, o que Seu Antonio contou muito de primeira foi da derrota de príncipes e princesas que foram escravizados e vieram pra ca pro Brasil a força, separados de sua gente e de sua família. A fome, a tortura, a mordaça, o tronco....era mais, muito mais que o preto não fugir por que não tinha conhecimento da a terra. Com Seu Antonio não tinha palmatória....mas também não tinha dessa vez meu avô do meu lado pra me contar a versão boa que ele sabia...

Numa das aulas, ele contou que ate que a feijoada, que minha vó fazia sempre quando era almoço família toda junta, o preto inventou nesse tempo, porque preto não podia comer carne boa e do resto do porco fez essa comida, que hoje um monte de gringo atravessa o mundo pra comer aqui.

Ve se pode...

Eu já não queria mais ir pra escola e nnao dizia o por que pra minha mãe pra ela não ficar chateada.

Como que eu ia contar pra ela que Seu Antonio, o melhor professor que já tive, tava agora falando isso da gente?

Um dia, quando a aula acabou e eu não sai. Fiquei pra enfrentar o Seu Antonio, perguntar por que que ele só falava daquelas coisas e não tava contando a historia de zumbi, a beleza da mandinga da capoeira, da sabedoria que meu avô contava pras netas dos pentes de Africa, que fazem os cabelos das pretas ficarem tão bonitos do jeito que só eles podem desenhar....

Seu Antonio ficou com uma cara que parecia de dor de barriga misturada com vergonha, e não me disse nada quando as lagrimas desembolaram da minha garganta e vazaram pelos olhos, impedindo eu de terminar uma pergunta que era tão grande que eu nem sabia como fazer.

Calado ele tirou um monte de livro da mochila. Fiquei pensando no porque que ele tava com todos de uma vez na bolsa. Pensava em como os professores gostavam de ler...

Seu Antonio ficou muitos minutos folheando, procurando alguma coisa.....esse tempo foi bom pra eu retomar o prumo e engolir o choro.

Gaguejando muito, como sempre quando estava nervoso, Seu Antonio me falou que tínhamos uma missão: a historia do negro que eu conhecia que meu avo contava não estava no livro da escola, e em nenhum dos outros que ele tirou da bolsa.

Eu disse que o que tínhamos não parecia se chamar missão mas sim, um problema, mas ele disse que não, que íamos fazer uma pesquisa, que íamos levar meu avô na sala de aula pra contar as partes da historia do preto que ele sabe e que os autores do livro pareciam não conhecer.

Bem, contei pra ele que meu avô ja estava em Aruanda a um tempo, mas combinamos de começar um trabalho grande: eu ia nos meus tios como um repórter pra colher as memórias que meu avo passou pra eles. Foi assim que eu descobri que tudo veio de antes, do que o avo do meu avo contou pra ele!!!!

O professor Antonio ficava todo recreio e almoço atras de uma montanha de livro que ele pegou em uma outra biblioteca, por que o que ele queria da historia não tinha nos livros da escola.

Na festa de final de ano da escola organizamos uma exposição, com a pesquisa que Seu Antonio fez e eu, fui o apresentador da historia do negro que não esta nos livros, que quem contou foi o avô do meu avô.....

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Carta ao Professor


Querido Ricardo,

Venho por meio desta expressar minha angustia: não tem jeito, terei que chutar o balde.

Sim, após ler essa mensagem você pode concluir que isso é idealização, transferência e projeção. Não me importo.

A única coisa que me importa agora é me libertar desse platonismo pseudo amoroso que mora no meu silencio e que me abarcou desde a primeira vez que te ouvi.

Sim, ouvi.

Foi seu conteúdo, o que saiu de sua mente – pela sua boca super delicia – que me atraiu, me tirou o sono e provocou pensamentos sujos (intelecto-erotizados, mas ainda assim, sujos).

Todo aquele papo de física e metafísica; as possíveis confirmações cientificas sobre as 11 dimensões, traduziam-se em minha mente como as 11 possibilidades possíveis de minha matéria se misturar à sua...

Sua didática, dialética, repertorio...seus gens piram os meus.

Pensei em esperar nosso vinculo acadêmico caducar para explanar toda essa ciranda que anda girando em minha cabecinha mas não vou não.

Ahhhh, não vou mesmo!

Deixo claro que essa iniciativa não em nada haver com conquista de notas altas ou ter algum privilegio, por favor.

A única vantagem que quero tirar disso materializa-se como um produto da indústria têxtil e é feita de algodão.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Paixão

E tudo começou com a oficina de contadores de historia que fiz em 2008...a inquietação aumentou e a urgência pela mudança profissional (finalmente) se consolidou em abril de 2010.

Com as novidades desse ano, só posso estar feliz. Por isso venho por meio deste post inaugurar as publicações de 2011 compartilhando os portais dourados que se abriram em meu caminho!

Com algum esforço e muita sorte passei nos editais à que me apliquei, pois bem:

Na ultima quinta feira tive a primeira aula da Pós em Ensino de Historia e Cultura Africana e Afro-brasileira. Numa turma composta principalmente por educadores e participantes do Movimento Negro fiquei do meu canto esquerdo me deliciando com a trocação de idéias e identificação de ideais do grupo. Sim, por enquanto só olho pois sou timida... mas com o tempo me solto e me jogo nessa dialética.

Ando bem ansiosa por março, quando se iniciam as aulas de Pedagogia na Federal Fluminense.
A possibilidade de "portar essa arma" legalmente já é uma ex possibilidade: estou na fase do processo!

Amo muito isso tudo.
Amo plantar sementes... engravidar o espírito, como os Anjos engravidantes citados por Rubem Alves em "Entre a ciência e a sapiência":

"(...) o que entra no ouvido é a palavra: o Pássaro divino cantou um canto tão lindo que a Virgem ficou grávida e dela nasceu o filho de Deus. "

Quero engravidar as mentes de palavra e, atraves dela, chegar aos corações alheios.

Só a Arte muda a cultura de um povo... a Arte e a Educação.