domingo, 15 de março de 2009

"Inveja dos Anjos" - Armazem companhia de teatro.



"Se eu gritar, quem poderá ouvir-me, nas hierarquias dos Anjos?
E, se até algum Anjo de súbito me levasse para junto do seu coração: eu sucumbiria perante sua natureza mais potente. Pois o belo apenas é o começo do terrivel, que só a custo podemos suportar, e se tanto o admiramos é por que ele, impassível, desdenha destruir-nos. Todo anjo é terrivel. Por isso me contenho e engulo o apelo deste soluço obscuro. Ai de nós, mas quem nos poderia valer? Nem Anjos, nem homens, e os argutos animais sabem já que nós no munndo interpretado não estamos confiantes nem à vontade. Resta-nos talvez uma árvore na encosta que possamos rever diariamente; resta-nos a rua de ontem e a fidelidade continuada de um hábito, que a nós se afeiçoou e em nós permaneceu"


Rainer Maria Rilke





Depois de um final de semana de vinte dias, de acordo com a quantidade de atividades executadas: café da manhã de aniversario com um longo, cansativo mas muito divertido debate sobre o que foi real ou não em "Coraline"; dança popular, conversa com uma amiga que não escuta, missão contra os ácaros, faxina, almoço com A.M.I.G.A.S (em um lugar longínquo de Niterói), visita a uma grande A.M.IG.A. e uma missão impossivel mas cumprida: de chegar ao Teatro a tempo de salvar meu ingresso reservado.


Fechei-o com chave de ouro, indo a um espetaculo indicado por um amigo.
Fomos somente, mais uma vez, Eu e Deus...
A peça falava do passado, presente e futuro de seis personagens que se encontram....
Falava que a pessoa aprisionada ao passado chega no futuro velha.


Havia algo como um ritual de queimar escritos para libertar os demonios do que foi ontem.
Como se, de acordo com o "programa", uma grande fogueira do lodo pessoal apagaria o que não mais nos interessa.
Conforme a mudança de determinadas situações, o personagem mudou e desistiu do assassinato de sua memória.
Viu a necessidade de ter o ontem como referencia para continuar seguindo e construir seu futuro.


Foi tudo muito leve, forte e comum....bem do tipinho que (me) emociona facil.
Gostei demais, pelo espelho que esse tipo de texto coloca a minha frente.


Fomos somente, mais uma vez, Eu e Deus.


Ainda nao sei dar nome ao que estou sentindo neste momento pela solidao de agora, que so se manifestou ao final do dia.
A vontade de dividir com alguem as sensações e sentimentos acordados em mim pelo espetaculo foi estranha.

"Afetos perdidos ou a serem descobertos (...)"

Pensei em escreve-los para depois queimar...testar se, de fato, a primeira ideia do personagem resolveria minha angustia.
Esquisita a tecnologia: não posso queimar esta pagina virtual e isso garante aos meus medos, anseios e frustrações, outra eternidade além da que ecoa em mim.


Não me sinto, nem um pouco triste agora...não seria esse o nome, é um estranhamento de ver algo em desagrado e simplesmente, de alguma forma, ter certeza de isso não é pra sempre.
Sem anseio de o momento chegar antes da hora.
Sem pressa....
E sem querer queimar a Magrela que fuma fumos, que já bebeu demais e hoje enche a cara de mate, que sente magoa e raiva de meia duzia de gato pingado mas ama, com muita força, mil e dezessete pessoas...


Sinto que vou precisar de mim ontem pra quando o amanhã chegar...

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