sábado, 1 de novembro de 2008

Em 31/10


Voltando do trabalho às três da tarde.
Um sonho!
Licença medica concedida por uma profissional excepcionalmente sensível às mazelas humanas que nos estrangulam, fui pra minha toca.
No caminho, um rapaz de 17 anos mais ou menos que vive aqui na rua.
Vive não, sobrevive, desde pequeno – palavras dele, muito bem colocadas por sinal.
Passo por ele há exatos 10 meses e 6 dias e nunca nos falamos..ele me olha, eu olho e só isso...até ontem.
Por que ontem ele falou:
-Pow tia, ta chorando?...fica triste não.
Brother, um rapaz q vive na rua dizer pra eu não ficar triste...tapa na mina cara, de começo.
E batemos um papinho....segundo ele, seu barraco fica em Nilópolis, ou Nova Iguaçu, já não me recordo bem. Mas cresceu e sobreviveu na famosa Rua Candido Mendes, onde hoje resido com felicidade extrema , mesclada com altos e muitos baixos depressivos.
Vontade de trabalhar, fome, falta de oportunidade...impossível saber o que é real ou não,
Mas, menos interessada na verdade e afim mesmo de fazer algo por ele e sim, por mim, fomos ao mercado comprar um kit de engraxate.
-Caralho, R$ 9.50 uma escova de engraxar?Puta que o pariu, neguinho quer que pobre roube mesmo.
Como a grana do vale alimentação não daria pra comprar o kit, tapamos um buraco ao menos levando uma havaiana de numero 42, já que o rapaz estava com os pés no asfalto quente.
Mais um papo até seu lugar preferido da calçada que se estende até santa Tereza, fui pra casa.
Fui pra comer, tomar banho e chorar um pouco mais as injustiças que se esfregam na nossa cara todos os dias, dessas que fazem a gente se sentir um monte de merda e impotente.
Desci e peguei o metro, rumo à Tijuca. Ele já não estava mais lá.
Espero que tenha conseguido a grana da intera pra desenrrolar seu rango.
Depois de resolver as paradas na Tijuca, fui afogar minhas magoas e abafar o stress no Circo Voador, palco nesse dia de uma estupenda mostra livre de artes...inspiradoras e angustiantes.....como a arte não pode nunca deixar de ser.
Como lá pras onze e meia o foda-se foi ligado intensamente ficamos até o final.
Eu e amiga Ana....bebemos até o dinheiro do taxi...seis reais,não pagava nem uma cerveja direito.
Vamos de a pé então......com a garantia de o gatinho que ela garrou nos acompanhar.
Chegando perto do ponto das “meninas” que aqui trabalham, sobre um cara muito louco cheirando cola....olha pra gente.
Pensei mediatamente – Fodeu, vamos ter q correr.
O maluco diminui o passo e olha pra trás, toda hora...pronto, fodeu de vez – cheguei a falar alto.
Eis que surge meio lúcido, meio alucinado o rapaz de mais cedo...e mete um carinhoso - Fala tia!
Abri meu sorriso mais sincero e disse: -Fala rapaz!!!!!(um pedido de socorro, pra quem me conhece)
Ele vira e fala...-Vai tranqüila tia, to te olhando.
Sei lá o que ele faria se o maluco tentasse pegar a gente.....mas fui, e fui tranqüila mesmo.
Serve como exemplo de uma exceção à regra...nem toda boa ação merece um castigo.

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